Depois de superlotar nossos armários com coisas que, provavelmente, jamais sairão de lá, o comércio achou um novo espaço a ser preenchido, nossa memória. A nostalgia nunca esteve tão palpável, e, por conseguinte, tão comerciável quanto hoje. Por uma bagatela você pode recordar desde o primeiro momento em que pegou uma peça de Lego® na mão até o último super-caminhão-foguete que construiu com ela. Mas, a boa notícia para os nostálgicos é que isso não pára por aí. Em épocas em que a idade não te permite mais ser um construtor de coisas surreais, uma proposta bem palpável surgiu para preencher esse vazio, os filhos de Lego®.
A principal diferença entre os filhos reais e os filhos de Lego® é que os filhos reais não brincam de Lego®. Vendo aquelas voláteis pecinhas coloridas se transformarem em um bando de pixels, polegadas e atropelamentos virtuais, a idéia de que crescer não é tão bom assim surgiu na cabeça de muitos pais atuais. E, claro, das indústrias de brinquedos que, “virtualmente atropeladas” pela informática, encontraram nos pais nostálgicos seu novo nicho de mercado. O relançamento de vários brinquedos dos anos 80 e 90 fez com que a chamada Geração Z desenterrasse a sua infância de baixo de um mar de lango-langos e lu-patinadoras.
Ok, você não pode mais brincar com um pogobol. Mas o seu filho pode. E existe apenas uma ressalva para isso: provavelmente ele não quer. Sair pulando por aí em cima de uma bola pode soar divertido para muitos de nós, mas para os mais novos soa como parece: “sair pulando por aí em cima de uma bola” (por mais que isso lhe doa, é sim, pronunciado com desprezo). É redundante dizer que os tempos são outros, mas com o comércio da nostalgia tão em voga, tornou-se imprescindível. Talvez só assim seja possível que os pais modernos enxerguem vantagens no que as crianças de hoje gostam.
Saiba que um cubo-mágico não é a melhor maneira de desenvolver a capacidade cognitiva. Saiba que os cigarrinhos Pan continham gordura trans. Saiba que a Super Massa não é mais a melhor amiga da criatividade. Saiba que vários jogos de computador para os quais seus filhos esboçam um sorriso e você torce o nariz são mais complexos que um Banco Imobiliário. E só quando você souber tudo isso, estará se dando conta de que seus filhos são reais e que um passado não pode ser reconstruído com peças de Lego®.
quinta-feira, 13 de março de 2008
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Um comentário:
É isso aí Carol! Mas temos que lembrar que esses adultos nostálgicos são também os que hoje criam e produzem os jogos e programas de computador que as crianças tanto gostam, eles foram os que passaram a infancia montando caminhão-foguete de lego no domingo de manhã...
Talvez algum deles até tenha tido um pogo-bol.
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