Nós não somos donos do Wal-Mart. Nós não herdamos o Wal-Mart quando nascemos. Nós não pegávamos comida de graça no Wal-Mart quando pequenos. Nós não éramos donos do Wal-Mart quando enfrentamos o governo por um pedaço da terra alheia. Também não éramos donos do Wal-Mart quando começamos a plantar laranjas nessa terra. E continuamos não sendo donos do Wal-Mart quando as laranjas deram um lucro pequeno, apenas para nossa sobrevivência.
Mas o dono do Wal-Mart também não nasceu dono do Wal-Mart. E pode-se dizer que permaneceu assim por um bom tempo. Afinal, o dono do Wal-Mart não era dono do Wal-Mart quando aprendeu o valor do trabalho. O dono do Wal-Mart não era dono do Wal-Mart quando vendeu sua primeira laranja. O dono do Wal-Mart não era dono do Wal-Mart quando usou o dinheiro da laranja para comprar mais laranjas. E o dono do Wal-Mart também não era dono do Wal-Mart quando comprou uma fazenda e investiu o dinheiro de suas plantações.
O dono do Wal-Mart nunca foi muito diferente da gente. Pois é aí que percebemos que a única diferença entre o dono do Wal-Mart e nós é o que fazer com as laranjas. Enquanto nós jogávamos as laranjas nos donos do Wal-Mart da vida clamando por justiça, o dono do Wal-Mart usava as laranjas para tornar-se o dono do Wal-Mart. Como a vida é injusta.
terça-feira, 22 de abril de 2008
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Cordel do Coroado
Dizem “Deus é brasileiro”.
Eis aí uma inverdade.
Pois se Deus nasceu aqui,
Deus nasceu em que cidade?
Em Brasília é que não foi,
Deus teria que idade?
Pois a muito não se vê
Em Brasília integridade.
Lá no Rio não ouviriam
As palavras da Verdade
Deus não faz parte do Bope,
Deus não tem autoridade.
Em São Paulo também não,
Faltaria liberdade.
Se um já fica engarrafado,
que dirá uma Trindade.
Salvador tinha outro Deus,
Dono da comunidade.
Lá Deus era um coronel
Com talento pra maldade.
Nas cidades nordestinas,
Com esse grau de mortandade?
“Maria morreu no parto,
É o fim da Cristandade”
Pois se Deus nasceu aqui,
Foi-se embora da cidade,
Escolheu ser estrangeiro
A viver na insanidade.
Eis aí uma inverdade.
Pois se Deus nasceu aqui,
Deus nasceu em que cidade?
Em Brasília é que não foi,
Deus teria que idade?
Pois a muito não se vê
Em Brasília integridade.
Lá no Rio não ouviriam
As palavras da Verdade
Deus não faz parte do Bope,
Deus não tem autoridade.
Em São Paulo também não,
Faltaria liberdade.
Se um já fica engarrafado,
que dirá uma Trindade.
Salvador tinha outro Deus,
Dono da comunidade.
Lá Deus era um coronel
Com talento pra maldade.
Nas cidades nordestinas,
Com esse grau de mortandade?
“Maria morreu no parto,
É o fim da Cristandade”
Pois se Deus nasceu aqui,
Foi-se embora da cidade,
Escolheu ser estrangeiro
A viver na insanidade.
Isabella não morreu
Isabella não morreu. Mais de uma vez. Isabella não morreu tantas vezes, que é impossível calcular tudo o que morreu no lugar dela. Afinal, matou-se muita coisa para reviver Isabella.
Ninguém liga se um cartão corporativo cai do sexto andar. Cartões corporativos não são crianças. Mas podem estar tirando comida da boca de muitas. Crianças essas que não são Isabella. Porque Isabella não morreu de fome, nem de dengue, nem no tráfico infantil, nem de tiro na favela. Isabella morreu, seja lá do que for, mas vive na Globo, no SBT, na Veja, na internet, em todo lugar.
Se o Brasil fosse um programa de televisão, a morte de Isabella teria resolvido todos os nossos problemas. Porque desde Isabella, muita coisa não acontece. Ninguém mais vende bala no sinal, ninguém mais toma bala de revólver. Ninguém mais rouba do governo, ninguém é roubado por ele. Nenhum político virou corrupto, nenhum corrupto virou político.
Isabella levou consigo todas as boas notícias, e as más também. Mas, por mais trágica que seja, a verdade não morre. E a verdade é que o Brasil não é um programa de televisão e Isabella, é triste, mas Isabella morreu.
Ninguém liga se um cartão corporativo cai do sexto andar. Cartões corporativos não são crianças. Mas podem estar tirando comida da boca de muitas. Crianças essas que não são Isabella. Porque Isabella não morreu de fome, nem de dengue, nem no tráfico infantil, nem de tiro na favela. Isabella morreu, seja lá do que for, mas vive na Globo, no SBT, na Veja, na internet, em todo lugar.
Se o Brasil fosse um programa de televisão, a morte de Isabella teria resolvido todos os nossos problemas. Porque desde Isabella, muita coisa não acontece. Ninguém mais vende bala no sinal, ninguém mais toma bala de revólver. Ninguém mais rouba do governo, ninguém é roubado por ele. Nenhum político virou corrupto, nenhum corrupto virou político.
Isabella levou consigo todas as boas notícias, e as más também. Mas, por mais trágica que seja, a verdade não morre. E a verdade é que o Brasil não é um programa de televisão e Isabella, é triste, mas Isabella morreu.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Made in Brazil
Nós não andamos por aí pelados. Para falar a verdade, nós nem andamos por aí. Nós dirigimos por aí. Usamos roupas e carros. De marca. E nem dá para questionar a qualidade, porque nós compramos de vocês.
Nós também compramos seus princípios, e pagamos cada centavo. Então, se isso esclarece a sua dúvida: não, nós não trepamos indiscriminadamente. Nossos pais não trepavam indiscriminadamente, nossos avós não trepavam indiscriminadamente e nossos bisavós...bem, desses aí não dá para falar muita coisa. Só conheceram a civilidade de verdade quando vocês chegaram aqui.
Mas não foi só isso que aprendemos com vocês. Seus livros também invadiram nossas estantes e seus hábitos, nosso modo de vida. Portanto, pense duas vezes antes de dizer que levamos vida fácil pois, imitando vocês, descobrimos o quão complicada ela deve ser.
Nós não somos diferentes de vocês. E se domamos nossos instintos e apagamos nossa cultura só para provar isso, não é qualquer gringo de merda que vai dizer que em 500 anos não progredimos nada. Há meio milênio, vivíamos para aprender. Hoje, somos ensinados a viver. Isso, caro amigo, se chama progresso.
Nós também compramos seus princípios, e pagamos cada centavo. Então, se isso esclarece a sua dúvida: não, nós não trepamos indiscriminadamente. Nossos pais não trepavam indiscriminadamente, nossos avós não trepavam indiscriminadamente e nossos bisavós...bem, desses aí não dá para falar muita coisa. Só conheceram a civilidade de verdade quando vocês chegaram aqui.
Mas não foi só isso que aprendemos com vocês. Seus livros também invadiram nossas estantes e seus hábitos, nosso modo de vida. Portanto, pense duas vezes antes de dizer que levamos vida fácil pois, imitando vocês, descobrimos o quão complicada ela deve ser.
Nós não somos diferentes de vocês. E se domamos nossos instintos e apagamos nossa cultura só para provar isso, não é qualquer gringo de merda que vai dizer que em 500 anos não progredimos nada. Há meio milênio, vivíamos para aprender. Hoje, somos ensinados a viver. Isso, caro amigo, se chama progresso.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Cordel do Cornudo
Não se sabe bem e ao certo
Que doença ele tem,
Mas a fofoca no inferno
É que o Diabo não está bem.
Foi aí que começou
A balbúrdia no Além.
Se o tinhoso sai em férias,
É preciso entrar alguém.
O Diabo está cabreiro.
É um medo que ele tem:
Ver seu reino dominado
Pelo cara de Belém.
Pôs anúncio no jornal
Pra tentar achar alguém:
“Inimigos na caldeira.
Diabinhas no harém”.
Primeiro chegou o Lula,
“Masss” havia um porém.
Pra dar ordens no inferno,
É preciso falar bem.
O Maluf trouxe idéias:
Uma ponte e um trem.
“Pra cair na minha cabeça?
Cê nem vem que aqui não tem”.
Fernando Henrique tinha planos,
Privatizar todo o Além.
“Fazer cotas do inferno?!
E vender pra Jerusalém?!”.
Roberto Jefferson tem talento
Mas a boca não contém
Num discurso tão maldoso
Terminar dizendo “Amém”?
O Bush era renomado,
Mas o Diabo não quis também.
“O homem pode ser mau,
mas matou Saddam Hussein”.
Acabaram-se os candidatos
E o Diabo não achou ninguém
Todo político quer ser ele
Todo político está aquém.
Que doença ele tem,
Mas a fofoca no inferno
É que o Diabo não está bem.
Foi aí que começou
A balbúrdia no Além.
Se o tinhoso sai em férias,
É preciso entrar alguém.
O Diabo está cabreiro.
É um medo que ele tem:
Ver seu reino dominado
Pelo cara de Belém.
Pôs anúncio no jornal
Pra tentar achar alguém:
“Inimigos na caldeira.
Diabinhas no harém”.
Primeiro chegou o Lula,
“Masss” havia um porém.
Pra dar ordens no inferno,
É preciso falar bem.
O Maluf trouxe idéias:
Uma ponte e um trem.
“Pra cair na minha cabeça?
Cê nem vem que aqui não tem”.
Fernando Henrique tinha planos,
Privatizar todo o Além.
“Fazer cotas do inferno?!
E vender pra Jerusalém?!”.
Roberto Jefferson tem talento
Mas a boca não contém
Num discurso tão maldoso
Terminar dizendo “Amém”?
O Bush era renomado,
Mas o Diabo não quis também.
“O homem pode ser mau,
mas matou Saddam Hussein”.
Acabaram-se os candidatos
E o Diabo não achou ninguém
Todo político quer ser ele
Todo político está aquém.
Assinar:
Postagens (Atom)